Mais do que um mês simbólico, o Abril Verde levanta um alerta urgente: em 2023, o Brasil registrou cerca de 500 mil acidentes de trabalho e mais de 2,8 mil mortes, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. Casos como o rompimento da barragem em Brumadinho (2019), com 270 mortes, e o incêndio na confecção em São Paulo (2023), que matou 10 costureiras por falta de saídas de emergência, escancaram o descaso com a vida do trabalhador.
"Quando um patrão corta custos com segurança, assume o risco de matar", afirma o especialista em direito do trabalho Emílio Fraga. Para ele, grande parte dessas tragédias seria evitada com fiscalização rigorosa e punições exemplares.
Apesar dos avanços em algumas empresas – como a Vale, que passou a investir R$ 127 bilhões em reparações e segurança após Brumadinho – a realidade ainda exige ação. Fraga cita exemplos recentes de responsabilização: um frigorífico multado em R$ 50 milhões por expor trabalhadores a riscos biológicos e uma montadora condenada a pagar R$ 3 milhões após casos de LER/DORT.
No outro extremo, iniciativas positivas mostram que é possível mudar o cenário: o Programa Viver Seguro, da Petrobras, reduziu acidentes em 72% com treinamentos imersivos; e o Sistema de Análise de Riscos (SAR) da Ambev, premiado pela OIT, comprova que tecnologia e compromisso salvam vidas.
“Segurança do trabalho não é gasto, é investimento”, reforça Fraga. Cada R$ 1 investido em prevenção economiza R$ 4 em indenizações. Além disso, ele defende medidas mais duras, como a tipificação da negligência patronal como crime hediondo quando houver morte, e cita a Suécia como exemplo, que reduziu em 80% as mortes no trabalho com inspeções-surpresa.
No Brasil, iniciativas como o Abril Verde Digital, do CREA-SP, que permite denúncias em tempo real contra empresas inseguras, já mostram o poder da mobilização.
Fraga encerra com um chamado:
“Nenhum trabalhador deveria morrer para que alguém lucre. A CLT precisa ser uma proteção real, não apenas um papel assinado. O Abril Verde é um grito por justiça – e pela vida.”